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martes, 28 de mayo de 2013

O desmame no ser humano. Informação e dicas úteis.

Tanto a Organização Mundial da Saude (OMS), quanto a Unicef, assim como a Sociedade Brasileira de Pediatria (e a maioria de Sociedades de Pediatria do mundo), indicam que o aleitamento materno deveria ser exclusivo durante os 6 primeiros meses do bebê, complementado (COMPLEMENTADO: introduzindo outros alimentos para o bebê ir experimentando texturas, sabores, cheiros...), mas ainda alimento principal, até o bebê completar o primeiro ano de vida; e mantido pelo menos até completar o segundo ano. Depois, sem limite de idade estipulado em lugar nenhum, “até que mãe ou filho queiram”.

 
Desde um ponto de vista antropológico, o desmame natural no ser humano acontecería entre os 4 e os 8 anos, segundo diversos estudos científicos que resumo e cito a continuação (Obtido de “A Time to Wean”, Dra. Katherine A. Dettwyler):

Desmame ao alcançar três ou quatro vezes o peso do nascimento. Os resultados indicam que o desmame acontece alguns meses depois de quadriplicar o peso do nascimento, e não ao triplicá-lo (Lee, Majluf e Gordon 1991). Os meninos americanos chegam neste ponto por volta dos 27 meses, e as meninas nos 30.

Desmame ao alcançar um terço do peso adulto. (Charnov e Berrigan, 1993). Os humanos deveriam desmamar, segundo este método, entre os 4 e os 7 anos de aleitamento materno.

Desmame de acordo com o tamanho do corpo adulto. (Harvey e Clutton-Brock, 1985) A equação destes cientistas prediz a idade de desmame humano entre os 2,8 e 3,7 anos.

Desmame em função da duração do período de gestação. (Lawrence 1989). Os humanos nos encontramos entre os primatas maiores, e compartilhamos o 98% de nosso material genético com os chimpancés e os gorilas. Segundo estas comparações, a idade natural de desmame para os humanos seria como mínimo de seis vezes a duração do período gestante. Isto é 4,5 anos.

Desmame em função da erupção dental. De acordo com as pesquisas de Smith (1991), muitos primatas desmamam os filhos quando estes desenvolvem os primeiros molares permanentes. Nos humanos, isto acontece aproximadamente aos 5,5 ou 6 anos. É interessante fazer ver que os humanos alcançam a autonomia imunológica por volta dos 6 anos, o qual permite supor que, ao longo do nosso passado evolutivo, as crianças dispunham de imunidade ativa a través do leite da mãe até essa idade mais ou menos (Frederikson).

Mãe e filho escolhem quando parar

Partindo daqui, das recomendações oficiais, e sendo devidamente demonstrados os benefícios destas recomendações, também é verdade que cada mãe, cada filho, cada contexto são únicos. Amamentação é coisa de dois (com vozes autorizadas, poucas preferivelmente, como a do pai), mas é coisa de dois: mãe + filho. E vai chegar o momento, às vezes antes do “desejável”, outras bem depois, em que um dos dois decida que é hora de acabar com a teta.

Se quem sente que chegou a hora é o filho, o processo costuma ser simples e fácil, pois simplesmente ele vai parar de mamar (se isso acontecer antes do primeiro ano não se considera desmame, senão greve de amamentação, e temos –e diria que até devemos- como recuperá-lo). A mãe, geralmente, sofre bastante. É um duelo em toda regra, o fim de um vínculo único que não vai voltar, mas cujos frutos vão aparecer a vida toda.



Agora, quando é a mãe quem sente que está chegando a hora de parar, a pior parte fica para o bebê ou para a criança, pois é ela quem vai ter que se despedir, provavelmente sem entender por que, de algo que para ela significa não apenas alimento, senão aconchego, conforto, embalo, remédio... AMOR. Claro que tem outras muitas formas de dar amor (ainda bem!), mas nenhuma tão completa em um ato só. E é por isso que, se a nossa decisão é de desmamar mesmo, e se queremos fazê-lo mitigando no máximo possível o sofrimento do nosso filho, vamos ter que multiplicar por muito a nossa presença, o nosso colo, os nossos abraços e todas as formas de amor que o nosso filho demande nesse processo. (Leia também sobre a "agitação da amamentação" que sofrem algumas mães, sofrendo uma forte rejeição quando dão de mamar depois de algum tempo, ou por causa de uma nova gestação, ou ao voltar a menstruar).

Evidentemente deixo claro que eu considero que mais ninguém pode tomar essa decisão pela mãe ou pelo filho. E com ninguém quero dizer: nem pediatras metidos, nem padres de igreja, nem professoras waldorf ou de outras pedagogias, nem familiares na maior pressão, inclusive nem o marido. A teta é da mãe e do filho, e que a mãe queira levar em consideração a opinião do marido, não quer dizer que deva se submeter a ela. Portanto, antes de desmamar, pare para pensar se a decisão é realmente sua, ou se o faz só porque outros acham que é melhor, é hora ou é mais apropriado.

Dicas para facilitar o processo de desmame:

-Nunca desmamar de vez. Melhor ir aos poucos, combinando com a criança de eliminar algumas mamadas do dia. Uma vez estabelecidas menos mamadas, podemos ir retirando outras. Geralmente as noturnas são as mais difíceis, mas delas falamos depois.

-Explicar para a criança o motivo do que está acontecendo. Já que vamos tirar da vida dela uma das coisas mais importantes, o mínimo é lhe dar explicações, né? “Mamãe está cansada”, “Está frio e não quero tirar o tetê da blusa fora de casa”, “Está doendo” (se é o caso, numa nova gestação, por exemplo).

-Ajuda no processo ir combinando com ele substitutos, como, por exemplo: “Agora, fora de casa, mamãe te da suco, e depois chegando em casa você já vai poder mamar”, ou “agora tetê não, mas olha quantos abraços tenho para você!!”.

-Fazendo uso da regra de ouro: “Não oferecer, não negar”, se sabemos que em determinados momentos do dia o nosso filho costuma querer mamar, é melhor nos anteciparmos a esse momento lhe oferecendo alguma outra coisa que ele goste, ou propondo uma brincadeira legal, saindo passear, etc. Lhe distraindo com algo realmente tentador. Se, chegado o momento, ele pede e a distração não funciona, então entrar na batalha do “não”, “sim”, “não”, sim”, com choros e obstinação por ambas partes, não ajuda em nada, e é muito desgastante para os dois. Pega leve!

-Chegado num ponto de "no chance", em que ele insiste "fora do combinado", podemos ceder, por exemplo, contando até um número determinado: "Então ta bom, pode mamar, e mamãe vai contando até 10 -ou 5, ou 50, sei lá- e depois você para, tudo bem?". Pode combinar um tetê só, em lugar dos dois. Em fim, pode ir fazendo combinados que ajudem a facilitar o processo, e à criança entender com que pode contar.

-Quando os nossos filhos estão se divertindo, geralmente eles pedem menos para mamar. O tédio é um grandíssimo amigo do tetê. Criança entediada pede para mamar com muita frequência. Por tanto, outra boa dica é nos esmerarmos estes dias em fazer com que a vida do nosso filho esteja cheia de diversões e atividades. Sair fora de casa (parque, visitar amiguinhos, passear, procurar folhinhas de árvores para fazer um collage, ou pedras para depois pintar...) é sempre uma boa. E maior presença do pai, com certeza também.

-O nosso filho vai sentir falta de uma das maiores fontes de carinho, conforto e aconchego, portanto, multipliquemos outras formas de lhe transmitir isso, dando muito colo, abraços, palavras carinhosas e, principalmente, estando muito presentes para ele: brincando, modelando massinha, passeando, fazendo cócegas, pintando... ESTANDO.

O que acontece de noite?

Como falei antes, as mamadas noturnas costumam ser as mais difíceis de eliminar, por não termos muitas opções de antecipação ou distração.

Antes de dar algumas dicas, acho importante resaltar que, se bem é verdade que as crianças amamentadas costumam acordar mais a noite, o fato de desmamar não garante que isso vá parar de acontecer. Me explico:

1. As crianças não acordam porque são amamentadas. Elas demoram alguns anos em desenvolver os padrões de sono adulto. Leia mais sobre isso: O sono dos nossos filhos e as conseqüências de deixá-los chorar)

2. Mais do que associar “crianças amamentadas” com “acordam mais a noite”, eu associaria: “crianças criadas com respeito” (amamentá-las faz parte disto) com “sabem que se acordam de noite podem chamar, que serão atendidas”. Evidentemente todos conhecemos casos de crianças criadas com mamadeira desde o total respeito. Só estou querendo dizer que costumamos associar “amamentadas” com “acordam mais”, e eu penso que coincide que essas “amamentadas” costumam ser, também, crianças levadas em consideração, que desfrutam da empatia dos pais, que são atendidas no meio da noite... Então o que lhes faz chamar no meio da noite talvez não seja “o tetê”, senão a consciência de que, precisando companhia e aconchego, ela vai ser lhe outorgada. A maior parte das mães que amamentamos sabemos que uma das melhores formas de oferecê-lo no meio da noite é amamentando, então é o que eles aprendem, e é o que pedem. Mas que não acordem “mais que outras crianças” por serem amamentadas, senão por serem levadas em consideração, é o que eu queria defender neste ponto.

3. Portanto, talvez consigamos que parem de pedir tetê no meio da noite, mas provavelmente eles vão continuar acordando pedindo água, presença, etc. Porque, afortunadamente, sabem que seus pais não são dos que lhe abandonam no meio da noite, se ele precisa deles.

4. Dito isso, é verdade que a maioria de casos de crianças que acordavam muitas vezes no meio da noite (e não estou falando de bebês pequenos, por favor, que precisam ser alimentados também de noite), melhora bastante com o desmame noturno, passando a acordar menos, e às vezes até a parar de acordar. Mas nada garante isso, também tem casos em que tudo segue igual,mesmo número de despertares, e a gente sem a melhor ferramenta para adormecê-los de novo! Pensem que as crianças que passam a maior parte do dia longe da mãe, praticamente só tem a noite para recuperar o tempo perdido e ficar pertinho dela. Nesse caso, eles pedem aquilo do que estão carentes: da presença da mãe.

5. Cama compartihada pode ajudar nestes casos, às vezes porque só de ter a mamãe do lado, a criança dorme mais sossegada. Outras porque, já que o filho vai acordar mil vezes, pelo menos que a mãe se evite passeios noturnos, o que lhe desvela e cansa ainda mais.

Dicas para o processo de desmame noturno:

-Escolhamos um momento em que tudo esteja tranquilo, sem grandes mudanças internas ou externas. Que não seja começo de escolinha, nem se recuperando de uma doença, ou coincidindo com mudança de casa ou chegada de irmãozinho. Que não coincida com um salto de desenvolvimento (aprendendo engatinhar, caminhar, desfralde...). E lembrem-se que por volta dos 2 anos as crianças passam por uma fase de muito apego, pois estão se “desvinculando” da mãe para começar ser uma pessoa Independiente. Isso lhes gera muita angustia, e geralmente antes de dar esse passo à independência, eles se grudam muito na mãe (e se mamam no peito demandam quase como recém nascidos), para sentir que ela está aí de porto seguro, que ele pode dar esse passo porque ela vai estar aí, sim. Então, se ele estiver nesse momento, melhor esperar também um pouquinho, pois forçando um desmame nesta fase só conseguiríamos lhe fazer sentir mais inseguro (“Mamãe já não está para mim da forma em que eu preciso dela?”).

-Conversemos com ele, lhe explicando os combinados que a gente quiser fazer, por exemplo: “Se você acordar de noite pode me chamar que eu vou ir com você para te dar aguinha e ficar do seu lado, mas o tetê vai dormir de noite, tudo bem?”. Que não lhe pegue de surpresa. Tudo bem explicadinho para ele entender o processo.

-Entender o processo não significa aceitá-lo. E nem mesmo aceitá-lo significa que seja facil. Provavelmente vai ser difícil, muito difícil para ele, mesmo tendo entendido e aceitado. Vamos ser compreensivos, ta? É uma grande renuncia, um imenso esforço que ele vai ter que fazer. Empatia, colo, carinho e não pensar que “está nos manipulando, porque tinha entendido o combinado perfeitamente, mas quando chega a hora sabe que chorando eu cedo”.

-Escolhamos um feriado, ou dias em que o pai possa ajudar. Com ajuda dele costuma ser mais fácil. Crianças com mães que por força devem passar algumas noites fora (enfermeiras, doulas, acadêmicas que viajam...) costumam aceitar bem que seja o pai quem lhes embale. Sabem que é ele ou ele, e ao mesmo tempo o pai se sente confiante, pois depende dele, então vai seguro de si. Tudo isso é importante.

-Substituam, como no desmame diurno, as mamadas por muito amor, carinho, colo, presença, agua... Que eles não sintam que estão perdendo carinho, senão substituindo uma forma de oferecê-lo por outras alternativas.

Tudo isso, como vocês vêm, requer de esforço, se o fazemos desde o respeito à criança. Portanto pensem que TUDO, SEMPRE, tem possibilidade de volta atrás. Sem deixar a criança louca indo e voltando permanentemente, é claro. Mas se a escolha não está compensando, se você está ficando mais cansada que antes, se o seu filho está sofrendo demais. Pelo motivo que for, se não compensa, se não sai como esperava, sempre pode voltar atrás. Isso também vai ser um bom exemplo para os nossos filhos: “Você sempre pode tentar filho, que se não der certo tem via livre para voltar atrás e tentar de novo em outra ocasião ou por outro caminho”. Melhor tentar e comprovar que não é o que queremos, que não tentar por medo, ou que tentar e ver que não é o que queremos mesmo, mas seguir insistindo “porque não podemos voltar atrás”, não acham?

Texto de Elena de Regoyos para MamaÉ
Proibida a reprodução sem autorização
 
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3 comentarios:

  1. Olá mamães!!! Esse lindo texto da Elena me inspirou a comentar sobre minha experiencia. A Elena me conhece, me ajudou muito em 2 momentos cruciais da minha vida de mãe: no início quando minha filha estava com 7 meses, sem ganhar peso, chorando muito, eu lutando contra tudo e todos pra manter a amamentação (mesmo complementando - com sonda de pavor que ela largasse o tete) eu tinha medo de não chegar aos 8 meses de aleitamento... Bom, com MUITO custo superamos essa fase e aos 8 meses tirei o complemento e segui amamentando até que com 1 ano e 8 meses estav surtando querendo desmamar pq estava morta de cansasso de tantas acordadas a noite pra mamar... Ai teve o encontro de amamentação prolondaga com nossa querida Elena, onde chorei muitas vezes ao relatar meu desespero, meus surtos muitas vezes violentos fisicamente comigo mesma e verbalmente com minha filha... me mordia, me beliscava, gritava, quebrava coisas... meu marido quase me internou e não sei como os vizinhos não me denunciaram... não via saida, estava tudo negro, por mais QUE DISSESSEM QUE ISSO ERA UMA FASE E IA PASSAR EU NÃO ACREDITAVA ACHAVA QUE O MEU CASO ERA PIOR E QUE NUNCA IA PASSAR, achava que estava errando comigo se mantesse o peito e ao mesmo tempo que errando com ela se tirasse, mas e EU... mas e ELA... ela precisa de mim... EU preciso de mim... QUASE ENLOUQUECI!!!! Sentia dor, nojo, ódio, depois chorava de arrependimento... Ela só dormia no peito, ninguem podia me ajudar... Bom, a questão é que não sei como, rezendo muito pro Papai do Ceu me ajudar, o tempo foi passando e quando me dei conta aos 23 meses nosso ela estava mamando um pouquinho pra dormir e ela mesmo se jogava na cama entre eu e meu marido e rolava, rolava abraçada com sua naninha até dormir... Hj faz mais ou menos 1 mes que isso começou e todas as noites me emociono a vendo dormir assim.. Agora vejo que realmente as coisas passam e se tivermos paciencia o desmame natural acontece, temos que acreditar!!!! Boa sorte pra todas!!!! Ah, a minha Manu ainda mama aos 2 anos mas agora conseguimos negociar!!!!

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    1. Você é uma mulher e uma mãe maravilhosa Angela.
      Grata por contar a sua experiência, com certeza vai ajudar muitas mães que estejam agora no fim do tunel :)
      Beijão em você!

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  2. Obrigada Elena, sempre quis muito ser MÃE e com pessoas como vc em nosso caminho isso fica mais fácil!!! Obrigada pelo trabalho maravilhosos que faz!!! Beijo

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